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Publicado em Ciência 2.0_Conhecimento em Rede, em 24/11/2014 por Renata Silva
Um autêntico ambiente de investigação científica com o apoio dos professores. Em Portugal, alunos do ensino básico e secundário têm vestido a pele de cientistas e ganho prémios nacionais e internacionais. Que áreas seguiram e vão seguir estes jovens e o que pensam do estado da investigação no país? No dia mundial da ciência o Ciência 2.0 apresenta alguma respostas.
Do passado para o presente, com um estudo sobre trajetórias de uma bola de basquetebol e sua relação com a física, David Sobral mudou precisamente a trajetória da sua vida. Em 2004 ganhou um prémio na Mostra Nacional de Ciência organizada pela Fundação Portuguesa da Juventude que viria a acabar com as indecisões entre a literatura e a ciência. A simulação de como seria o trajeto de uma bola num outro planeta valeu-lhe um prémio e a possibilidade de participar numa competição internacional. "Quando fui ao concurso europeu vi que estavam lá trabalhos muito bons, com muita qualidade e pensei que seria capaz de fazer mais e melhor", conta ao Ciência 2.0.
E assim o fez. Hoje em dia é astrónomo. Uma carreira de dez anos, oito dos quais fora de Portugal, em Edimburgo e em Leiden, na Holanda. A possibilidade de sair do país para fazer investigação, como fez David, que ainda não completou 30 anos, está na mente de outros jovens cientistas.
Um trabalho científico que dá "organização, perspicácia e sentido crítico"
Foi o European Union Contest for Young Scientists que abriu horizontes ao investigador português e que, este ano, foi pela primeira vez atribuído a Portugal, a três jovens estudantes, entre quais João Araújo, com um estudo na área da Matemática. São alunos que há vários anos se dedicavam a uma investigação.
Mariana Garcia e Matilde da Silva chamaram a atenção de um júri composto por 18 cientistas internacionais com o "Smart Snails" (Caracóis inteligentes). As estudantes de 16 anos criaram um "teste rápido", simples e barato, à qualidade ambiental das águas no qual os protagonistas são caracóis da espécie Lymnaea stagnalis. Neste momento preparam-se para patentear o projeto e pretendem, em breve, publicar o trabalho numa revista científica internacional. Entretanto, estarão num curso intensivo de ciência em Londres, para jovens estudantes, durante 15 dias.
As alunas da Escola Secundária de Arouca (ESA) andavam desde o 7º ano a trabalhar neste projeto na oficina de ciência dessa instituição, uma iniciativa extracurricular que existe desde 2006."Este trabalho científico ajuda os alunos a desenvolver uma série de competências de comunicação, preparando-os para o futuro, através do desenvolvimento de trabalhos de grupo. Dá-lhes organização, perspicácia e sentido crítico", diz Filipe Ressurreição, docente que dirige estes projetos na Escola Secundária de Arouca.
Da roupa para os oceanos: alunos descobriram microfibras sintéticas na praia
Ainda na área do ambiente, estudantes do Colégio Luso-Francês, no Porto venceram este ano a final da 15ª edição do concurso "Ciencia en Accíon", em Barcelona, na categoria de sustentabilidade com projeto BlueB – debris FREE sobre microplásticos. O grupo de estudantes, então no 12º ano, recolheu e analisou amostras de areia da praia de Matosinhos e descobriu que 85% das amostras são constituídas por microfibras sintéticas que se libertam das nossas roupas na máquina de lavar. Estas microfibras acabam por ir parar ao oceano.
Com estas conclusões, Beatriz Valongo, Rodrigo Mesquita e Filipe Baptista juntamente com, Rita Rocha, professora que acompanhou a investigação no âmbito de uma disciplina criada de propósito para este tipo de trabalhos, sugeriram soluções como a utilização, por exemplo, de um filtro na máquina de lavar que impeça as microfibras de chegarem ao oceano. "Estamos neste momento em parcerias com o ISEP e a Universidade do Minho para desenvolver um protótipo destes filtros", conta Rita Rocha ao Ciência 2.0.
Na Escola Secundária de Oliveira do Bairro surgiu o projeto Tracking Box que alcançou, entre outros, o segundo prémio da associação americana de propriedade intelectual, na Intel ISEF - Feira Internacional de Ciência e Engenharia 2014. A ideia partiu de Ricardo Nunes, André Ferreira, Frederico Nuno e Edgar Carvalheira. O TBox é um dispositivo eletrónico em formato de pulseira que deteta colapsos ou acidentes através da identificação de movimentos bruscos ou ausência de movimentos. Esta pulseira reduz o tempo de ativação dos meios de emergência já que tem ligação a um smartphone.
"Informo-os de que a situação [da investigação científica] não está boa"
Quanto ao futuro destes jovens, o professor Filipe Ressurreição deixa o conselho: "Fico muito contente que se tornem cientistas, mas informo-os de que a situação não está boa e que é preferível seguir medicina ou sair do país". E, de facto, muitos dos alunos que deixaram escolas como a ESA entraram na faculdade seguindo sobretudo o curso de Medicina, mas também de Engenharia e Farmácia. Outros tornaram-se "empreendedores"
"Acho que o país não dá muito valor à investigação científica em Portugal", refere Matilde, que quer vingar na área da cirurgia plástica. Já Mariana ambiciona fazer investigação em bioengenharia e em Portugal, mas não descarta a hipótese de trabalhar num outro país europeu.
Do presente ao futuro, é geral a ideia e noção das dificuldades de fazer investigação no país. Apesar de o fazerem escolas e alcançarem notoriedade na Europa, os jovens seguem outras carreiras ou equacionam sair do país. "Portugal é que sai a perder. De uma forma até caricata, há por outro lado, um discurso constante sobre o 'lado bom português', promovido pelo impacto das descobertas científicas dos mesmos investigadores que acabam por se ver forçados a prosseguir carreira lá fora", revela Beatriz Valongo, porta-voz do grupo, em resposta ao Ciência 2.0. A ideia da jovem é seguir investigação na área do desporto e vê-se a trabalhar no estrangeiro e não em Portugal.
Foto: Fundação da Juventude (retirada da página do Facebook da instituição) 

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