A Universidade do Porto desafia a cantar o Grândola Vila Morena à janela, às 15h certas do dia 25, com o Coral de Letras em pano de fundo e as centenas de portugueses que enviaram o registo das suas vozes, unidas neste vídeo.

Veja o resultado em https://youtu.be/mKiiUtechME

O Coral de Letras e a Casa Comum da Universidade do Porto lançaram o desafio. E foi a partir de casa que cerca de 250 pessoas cantaram esta versão especial da canção de Zeca Afonso que, há 46 anos, serviu de senha para o arranque da Revolução dos Cravos. Afinal, Abril é, antes de mais, um projeto coletivo.

Notícia retirada daqui: https://up.pt/casacomum/


"Estamos em casa há quarenta dias. Temos saído o menos possível, temos trabalhado com o barulho das crianças aborrecidas, temos aprendido a fazer pão para passar o tempo e tentado manter os ciclos do sono regulados. E entretanto, confinados às nossas casas, não podemos celebrar na rua o dia da liberdade.

Desde o fim dos anos 80 que não há jovens nas nossas faculdades com memória viva do 25 de abril. Para muitos, a liberdade é um legado já dado como adquirido na sociedade e o cravo apenas um símbolo da imaginação coletiva. A partir do acontecimento original, de tão repetido oral e literariamente, criou-se um mito, a narrativa da Revolução dos Cravos. Esse mito, de tão dramatizado e continuamente encenado, deu lugar a um rito. Marchámos em abril com um cravo vermelho na lapela durante os últimos 46 anos e esse ritual faz hoje parte da nossa cultura de uma forma tão natural que lhe sabemos de cor as palavras de ordem.

Mas como podemos celebrar Abril em casa? É hora de olharmos para a terra e pensarmos em como plantar nós mesmos os nossos cravos – se, de facto, os quisermos colher. Quando, no futuro, nos perguntarem «onde é que você estava no 25 de abril» de 2020, todos saberemos a resposta. Os instrumentos de liberdade de que precisamos estão já dentro da nossa casa: somos nós. Este ano, mostremo-nos gratos por ela, dizendo baixinho aqueles versos de Ramos Rosa:
 
“Casa de sol onde os animais pensam
[…]
ó casa de sonos e silêncios tão longos
e de alegrias ruidosas e pães cheirosos
ó casa onde se dorme para se renascer
ó casa onde a pobreza resplende de fartura
onde a liberdade ri segura.”




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