Penso no testemunho humano, mas também social e político, do projeto artístico que a coreógrafa francesa Nadia Vadoria-Gauthier está a realizar desde 14 de janeiro de 2015, uma semana após os atentados de Paris.

Diariamente, sem exceção, onde quer que se encontre, Nadia interrompe a sua atividade, coloca a sua câmara fotográfica sobre um tripé e, durante um minuto, dança.

O título do seu projeto baseou-se nesta literalidade: “Une minute de danse par jour”. E escolheu como moto uma frase de Friedrich Nietsche: «Conta por perdido o dia sem dança».

Que diferença traz um minuto de dança? Nenhuma, aparentemente. Não muda o mundo, com a sua forma tensa e agitada, a sua férrea marcha.

Todavia, a coreógrafa acredita que, ao repetir com deliberada fidelidade o mesmo gesto, pode obter-se o efeito da gota de água de que fala um antigo provérbio chinês: «Gota após gota se escava a rocha».

Por isso explica: «Quero agir atribuindo-me uma ação diária pequena mas real e repetida, um trabalho que fosse como uma poesia em ação, colocando-me verdadeiramente em jogo (…).

Danço a cada dia, sem outras armas à exceção da minha sensibilidade, para não ceder à anestesia, ao medo e ao imobilismo, criando relações com os outros e com o ambiente».


D. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 17.05.2019

Retirado DAQUI.


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