A humanidade estava já desabituada de conviver com as epidemias, as nossas velhas companheiras tão antigas quanto a civilização humana. As pandemias são de facto um fruto da revolução neolítica; a nossa capacidade de dominar a agricultura e a pecuária, a consequente sedentarização e a aglomeração das populações em densas aldeias, vilas e cidades, bem como os intercâmbios comerciais que se seguiram, foram o fator que fez nascer as pandemias. Uma doença infeciosa nunca se disseminaria por grandes regiões geográficas tendo como veículo pequenos grupos de caçadores-recoletores dispersos, facto sustentado pela total falta de evidência arqueológica sobre pandemias nesse período. Não deixa de ser curioso pensar que foi a civilização que fez nascer as pandemias, que devastaram continentes, dizimaram civilizações, decidiram guerras e derrubaram impérios no passado, mas que a ciência, um dos apogeus máximos da civilização, tem sido a ferramenta que melhor tem conseguido controlar, dominar, e até erradicar muitas delas. A ciência é a nossa tábua de salvação para lidar com as pandemias. (...)


O álcool contra a COVID-19

Resumo

Durante a pandemia da COVID-19, foram recomendados dois meios de desinfeção do vírus SARS-CoV-2, a repetida lavagem com sabão e o álcool a 60% ou mais. O uso do álcool não causa surpresa porque estamos habituados a usá-lo como meio geral de desinfeção, mas interessa compreender o seu mecanismo de ação. O efeito baseia-se na desnaturação de glicoproteínas que fazem parte do envelope do vírus, sendo que a desnaturação as impede de exercerem as suas funções biológicas, químicas e físicas.

O sabão contra a COVID-19

Resumo

Este pequeno artigo pretende explicar, de uma forma simples o mecanismo pelo qual a lavagem das mãos com sabão impede a infeção pelo vírus causador do COVID-19. Como o leitor se irá aperceber, tudo roda em torno de dois conceitos fundamentais da química: a hidrofilicidade e a hidrofobicidade. A forma como substâncias hidrofílicas se agregam entre si, e evitam o contacto com substâncias hidrofóbicas (o chamado “efeito hidrofóbico”) faz com que o sabão literalmente “desmonte” este e muitos outros vírus.

Resumo

Aproveitando o esforço mundial para a criação de fármacos para a COVID-19, explica-se a estratégia seguida para a criação de um novo fármaco. A fase inicial do desenvolvimento assenta sobretudo na especificidade das propriedades e das interações químicas entre o fármaco e o seu alvo terapêutico. Depois, o fármaco é sujeito a uma fase de validação e várias fases de testes clínicos que começam em modelos animais, até à administração do fármaco no doente, atingindo assim a forma de medicamento.

Vacinas e imunidade

Resumo

Neste artigo é feita uma abordagem genérica à resposta imunológica à vacinação. São referidas as estratégias usadas na conceção de vacinas e os mecanismos imunológicos inerentes, com um foco especial nas vacinas preventivas de doenças infeciosas causadas por vírus e, de forma mais particular, nas abordagens em curso para a obtenção de uma vacina contra a COVID-19.

Resumo

Descoberto um novo vírus, o SARS-CoV-2, em quatro meses foi já possível determinar 182 estruturas de um número muito reduzido de proteínas deste vírus, isoladas ou ligadas a outras entidades, com diferentes técnicas e resoluções. Apresentam-se visualizações adaptadas de algumas proteínas com estruturas já depositadas no Banco de Dados de Proteínas (Protein Data Bank) por cientistas de todo o mundo e através do qual todos colaboram.

O paracetamol e a COVID-19

Resumo

O paracetamol (ou acetaminofeno) é um fármaco de primeira linha recomendado pelos Organismos de Saúde para o tratamento da hipertermia ou febre (temperatura 
 38.0 ºC), nomeadamente a associada à infeção pelo SARS-CoV-2. Consequentemente, o N-acetil- p-aminofenol (APAP, nome químico para o paracetamol) está presente, enquanto princípio ativo único ou em associação, em várias formas farmacêuticas (comprimidos, xaropes, supositórios...). Embora o paracetamol seja considerado um medicamento seguro quando administrado em doses terapêuticas, pode, no entanto, ser bastante hepatotóxico quando em sobredosagem. A toma deste medicamento deve, por isso, respeitar as dosagens recomendadas, de modo a evitarem-se efeitos adversos graves e até fatais..

Modelos compartimentais e aplicações

Resumo

No âmbito da atual pandemia de COVID-19, provocada pelo vírus SARS-CoV-2, os modelos compartimentais estão na ordem do dia. Estes modelos matemáticos são amplamente utilizados para a construção de modelos epidémicos que contribuem para a tomada de decisões por parte das autoridades políticas e sanitárias. Neste artigo, são apresentados os fundamentos matemáticos deste tipo de modelos, assim como as ferramentas para a construção. São dados também alguns exemplos de aplicação, tanto na área da epidemiologia, como nas ciências biomédicas.

As grandes Pandemias da História

Resumo

O Homem, ao longo do tempo, abraçou diferentes conceções explicativas das doenças segundo o médico e historiador da Medicina Lain Entralgo (1908-2001): a conceção punitiva da doença indicava uma causa teológica do mal; a materialista, considerava uma espécie de aderência material externa e sua ulterior mobilização interna; a dinamista, uma força divina transmitida por contacto; a demoníaca, a intervenção de um ser espiritual ou pneumático; e, a astral, em que as leis do macrocosmos se aplicavam à realidade humana. Face à etiologia considerada antevia-se o tratamento correspondente. Esta aparente tranquilidade era inúmeras vezes interrompida pelo terror coletivo, despertado pelo aparecimento de entidades mórbidas, mais mortíferas, as epidemias, quantas vezes designadas genericamente de “Peste” ou “Praga”. Sob o ponto de vista etimológico o termo “epidemia” designa uma doença que se abate sobre o povo. Caracteriza-se por ser imprevisível, incontrolável, evidenciar a fragilidade e inoperância do ser humano. Durante séculos prevaleceram os conceitos de saúde e de doença preconizados na Antiguidade Clássica. A situação de saúde dependia do equilíbrio dos humores, líquidos corporais nomeadamente o sangue, e a doença do seu desequilíbrio.

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