A boa forma física faz parte dos ingredientes para o sucesso escolar das crianças.
Excesso de peso e má condição física são inimigos do bom desempenho dos estudantes.
Quando pensam no rendimento e no desempenho escolar dos filhos, pais e professores associam-no aos hábitos de estudo, à atenção nas aulas, ao bem-estar emocional da criança e aos tempos de sono e descanso. E pensam bem, porque tudo isto influencia o rendimento escolar, no entanto, há influências menos óbvias que merecem ser consideradas: o peso e a aptidão cardiorrespiratória são duas delas.
Um estudo recente, feito por investigadores da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, vem provar isso mesmo: na população estudada, 1531 alunos do 7.º ano de escolaridade de 14 escolas públicas portuguesas, conclui-se que estudantes com peso normal obtêm um desempenho escolar mais elevado, quando comparados com estudantes com excesso de peso e obesos. Por outro lado, alunos com melhor aptidão cardiorrespiratória – que se consegue com atividade física regular – também obtiveram melhor rendimento escolar. Esta realidade não é um exclusivo nacional, são vários os estudos internacionais cujos resultados apontam para esta relação.
Na Alemanha – um país no qual cerca de 15 por cento das crianças e jovens entre os 3 e os 17 anos estão acima do peso –, um estudo recente do Centro de Ciências Sociais de Berlim concluiu que as crianças obesas, além de alcançarem notas mais baixas a Matemática, frequentam menos o ensino secundário. Note-se que o estudo foi desenvolvido tendo em conta apenas o peso das crianças, independentemente da classe social.
Também do outro lado do oceano as investigações apontam na mesma direção. Um estudo levado a cabo pelo American College of Sports Medicine descobriu que os estudantes dos 4.º e 5.º anos de escolaridade que corriam e faziam atividade física de forma vigorosa, durante pelo menos dez minutos antes de uma prova de Matemática, tiveram melhores resultados – comparativamente com crianças que tinham ficado sentadas calmamente antes do exame.
Estes e outros estudos têm defendido não só a importância de os pais estimularem a atividade física como também preocupação pela redução dos tempos de educação física nas escolas, que acaba por ter um impacte prejudicial não só na forma física das crianças como no seu desempenho académico.
A CAMINHO DO SUCESSO ESCOLAR
Nem sempre os fatores que condicionam o desempenho escolar são evidentes. A família, o meio social e as próprias condições da escola são determinantes. Mas há outros fatores que podem ajudar a fazer a diferença.
_UMA BOA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL
Quanto mais os jovens têm uma boa noção da área que gostariam de vir a seguir de futuro, maiores são os seus níveis de envolvimento com o processo de aprendizagem. Empenho e motivação que acabam por se refletir nos resultados concretos que obtêm.
_BANIR O USO DE TELEMÓVEL DURANTE O TEMPO ESCOLAR
Neste ano, a London School of Economics levou a cabo um estudo comparativo que conclui que banir a utilização de telemóveis nas instalações escolares tem um impacte
tão importante quanto aumentar uma hora por semana à carga horária escolar ou acrescentar cinco dias ao ano letivo. O estudo conclui que a abolição do telemóvel nas escolas estudadas teve um impacte muito real: os alunos medianos aumentaram os seus resultados em cerca de 6,4 por cento e os alunos com dificuldades de aprendizagem subiram-nas 14 por cento.
_AUMENTAR AS EXPETATIVAS
Quando professores e família esperam o melhor e acreditam no aluno, é mais provável
que ele corresponda às expetativas. Vários estudos têm demonstrado, por exemplo, que quando um professor acredita que um aluno vai ter um bom rendimento, ele tê-lo-á e, por outro lado, se não esperar muito do aluno, ele vai desmotivar e esforçar-se pouco, o que conduz a piores resultados.
_ESTIMULAR AS RELAÇÕES SOCIAIS
As crianças não vivem numa bolha. Boas relações sociais com outras crianças e adultos criam um sentimento de pertença, além de aumentarem a autoestima e a autoconfiança. E tudo isto é essencial para o bem-estar emocional da criança, uma das bases para o sucesso escolar.
_AS ATIVIDADES EXTRACURRICULARES
Não só o desporto, mas as artes proporcionam uma oportunidade de desenvolvimento das crianças. As competências que desenvolvem, a relação que estabelecem com os colegas e a forma como olham a escola, no conjunto, são razões suficientes para aumentar a motivação e a integração.
EXERCÍCIO PARA TODAS AS IDADES
Individual ou em grupo?
Pediatras e professores de educação física referem que as modalidades devem ser individuais até aos 8 ou 10 anos e de grupo a partir da pré-adolescência ou adolescência, quando é mais fácil apreender regras e, mais importante, a socialização.
O que treinar?
Também até cerca dos 8 anos é importante trabalhar a coordenação motora com atividades como karaté, ginástica ou ballet e a componente aeróbia, através da natação. Já na adolescência é bom treinar velocidade e força dinâmica, o que pode ser feito, em grupo, com atividades como futebol ou andebol.
Quanto tempo?
Entre os 12 meses e os 5 anos as crianças devem acumular no mínimo 180 minutos de atividade física ao longo do dia. Depois dos 5 anos, e até aos 18, o mínimo deve ser 60 minutos. Tanto num caso como noutro não é obrigatório que sejam consecutivos.
E nos primeiros meses de vida?
Salvo indicações em contrário por parte do pediatra, a natação (ou adaptação ao meio aquático, como é chamada nestas idades) é uma das atividades mais adequadas.
nº 1218 de 27 de setembro de 2015
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