A União Internacional de Química Pura e Aplicada acaba de integrar na Tabela Periódica, proposta pelo russo Dmitri Mendeleiev no século XIX, dois novos elementos, o 114 e o 116.
Os núcleos dos respectivos átomos possuem 114 e 116 protões, bem mais do que os 92 protões do núcleo do urânio, o elemento químico mais pesado existente na natureza em quantidade significativa. Os novos elementos, com os estranhos nomes provisórios de ununquadium e ununhexium, pertencem à família dos transuranianos, os que estão para além do urânio. Todos os transuranianos, com a excepção do plutónio (do qual há traços na Natureza), são puramente artificiais, isto é, apenas foram produzidos pelo homem em aceleradores, em minúsculas quantidades, por fusão de núcleos mais leves. Os novos elementos superpesados, apesar de só agora terem sido reconhecidos oficialmente, já tinham sido descobertos há cerca de uma década no laboratório de Dubna, perto de Moscovo, na Rússia, num trabalho de colaboração com um laboratório norte-americano.

Há lugar na Tabela Periódica para novos elementos? Terá ela um fim? Os investigadores já reclamaram a descoberta dos elementos 113, 115, 117 e 118 (este último é o recorde até à data) e só falta obter confirmações adicionais até que eles entrem. A referida Tabela cabe numa vulgar folha A4 simplesmente porque os protões do núcleo atómico, com carga positiva, se repelem, não conseguindo as forças nucleares atractivas contrariar o enorme efeito desintegrador em núcleos com um grande número de protões. É por isso que o ununquadium e o ununhexium decaem rapidamente, dando origem a elementos mais leves. Persiste, no entanto, a esperança de se descobrirem elementos mais pesados do que o 118, esses sim verdadeiramente superpesados. A sua estabilização durante um tempo razoável seria possível por efeitos quânticos no interior do núcleo. Atravessado o ‘mar da instabilidade’ poder-se-á estar a chegar a uma ‘ilha de superpesados’. Há mesmo quem tenha conjecturado uma outra ilha semelhante ainda mais além. Portanto, apesar de ser impossível que a Tabela Periódica progrida indefinidamente, o seu fim não está ainda à vista...

A saga da descoberta dos transuranianos começou poucos anos antes da II Guerra Mundial. Os jornais contaram fantasiosamente que o físico Enrico Fermi teria entregue à Rainha de Itália um tubo de ensaio contendo o elemento 93 (neptúnio). De facto, só em 1940 o neptúnio foi descoberto por uma equipa norte-americana, liderada por Glenn Seaborg, que também descobriu o 94 (plutónio), usado na bomba de Nagasaki. Os russos reagiram em plena Guerra Fria, acabando por se impor. Felizmente, o ambiente é hoje de cooperação: os superpesados, se existirem, poderão vir a ser descobertos em conjunto.


|Via Heliosfera, Carlos Fiolhais|

0 comentários:

Enviar um comentário

 
Top